Especialista em eficiência energética acredita que adiantar os relógios em 1 hora estimula mudanças comportamentais, mas gera pouco resultado na redução do consumo de energia
O presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva ainda não deu início ao seu mandato, mas já reascendeu uma antiga polêmica que andava adormecida: a volta do horário de verão. Instituído no Brasil em 1931 e 1932 por Getúlio Vargas, ele entrou de vez no calendário a partir de 1985 com o objetivo de aproveitar uma hora a mais de iluminação natural para reduzir o consumo de energia elétrica e, consequentemente, o risco de apagões. O horário de verão foi extinto por Bolsonaro em 2019, dividindo opiniões contrárias e favoráveis à medida.
Ontem à noite, Lula trouxe novamente o tema à pauta com uma enquete em seu perfil oficial no twitter. A pergunta foi direta: “Governo que consulta a população. O que vocês acham da volta do horário de verão?” Após 22 horas no ar, 2,3 milhões de pessoas se manifestaram e a maioria esmagadora (66%) respondeu “sim”. A enquete gerou engajamento e movimentou as redes sociais. Foram 45 mil comentários, 59 mil retuítes e 145 mil reações em um lapso de tempo bastante curto.
Os impactos sociais provocados pelo horário de verão são bastante evidentes. Ao adiantarem seus relógios em 1 hora, as pessoas, consequentemente, encerram seus compromissos diários mais cedo, como trabalho, escola ou faculdade, e ganham uma hora a mais para conviverem à luz do dia. Mas e sob o ponto de vista da eficiência energética? Qual é o real impacto que o horário de verão provoca na redução do consumo de energia elétrica?
Para o especialista Ricardo David, diretor da Elev, a economia de energia é muito pequena durante o horário de verão. “Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que é o órgão que monitora a utilização de energia elétrica no país, existem poucos benefícios em termos de redução do consumo”, afirma. “Se a decisão for eminentemente técnica, o horário de verão não deve voltar”, defende o especialista.
Ricardo David, no entanto, reconhece que o horário de verão também estimula mudanças comportamentais na sociedade. “Nós temos que considerar que em um país como o Brasil, pela sua dimensão continental, o horário de verão tem repercussões diferentes. Há regiões onde o problema da segurança é preponderante à necessidade de redução do consumo de energia. Nestes locais, muitas pessoas serão obrigadas se deslocarem no início da manhã ainda na escuridão. Também é verdade que há locais onde sair uma hora mais cedo do trabalho se torna um estímulo às pessoas caminharem, andarem de bicicleta”, avalia.